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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tragédias e Pores do Sol





Tragédias como as de Santa Maria, como a noite que insiste em surgir toda vez que o Sol se põe, trazem à tona a velha questão humana de encarar a própria morte.

É inevitável ao ver tantos jovens mortos, não pensar na própria finitude. Independente da religião que se siga, ou da crença que se tenha sobre o que ocorre após a cessação das funções de seu corpo.

A morte nos assombra e pensar sobre ela é, como diz o psiquiatra e autor Irvin D. Yalon, olhar diretamente para o Sol, só conseguimos fazê-lo por um instante antes de desviarmos os olhos para outra direção.

Porém a morte é ainda mais assustadora para aqueles que não vivem de modo satisfatório a própria vida.

E isso nos leva à algumas questões.

O que estamos fazendo com nossas vidas? Onde você tem investido mais tempo? Tem feito coisas que gosta ou somente as que tem que fazer? Tem visto os amigos? Brincado com seus filhos? Que legado, ou exemplo, você está deixando para trás?

Para todos nós que nos últimos dias temos sofrido junto a essas famílias que perderam seus filhos, irmãos e amigos, talvez seja também um momento de olharmos para nós mesmos e pensarmos o que estamos fazendo com nossa vida, que é tão única, quanto frágil e que pode findar quando menos esperamos. 

E citando Yalon termino dizendo “a morte pode nos destruir, mas a consciência dela pode nos salvar”.(De Frente Para o Sol, Irvin D. Yalon)




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sábado, 22 de dezembro de 2012

Por que adoramos o fim do mundo?



Estamos volta e maia, quer dizer meia, encarando o tal do fim do mundo.

Em 1999, quando havia o medo de que o mundo acabasse na virada para o ano 2000, o 'bug do milênio' e o caral.. a quatro, comprei um livro falando dessa nossa vontade de acabar com tudo e relatando outros finais de mundo.

Desde então passamos por mais alguns. Dessa vez foi o fim do calendário Maia, devo admitir que este foi dos mais sinistros que já vi. Programas de TV, documentários, gente ganhando uma grana preta ensinando pessoas a sobreviver e claro a como matar outras pessoas para fazer isso, coisa de norte americano...

Não quero aqui desmerecer o fim do tal calendário acredito que de uma forma ou de outra ele é um marco e como tal poderá ganhar um sentido em nossa história como espécie, mas isso só veremos no futuro.

O que estava pensando era no nosso desejo em que o mundo acabe.

Sim desejo. Parece-me que por trás de todo esse frenesi há o mais puro e verdadeiro desejo de que tudo se acabe. Parece haver uma compreensão, mesmo que velada, de que as coisas não estão bem. De que apesar de agora termos Ipads, Iphones, filmes em 3D, Kindles, carros flex e TVs digitais de tela plana, as coisas não estão bem.

"Ora se as coisas não estão bem não é só consertá-las?" O problema é que nunca é tão simples assim. Consertar coisas como por exemplo: a desigualdade social, a exploração indiscriminada de nossos recursos naturais, o estresse e a ansiedade generalizados que corroem pessoas e relações, irá exigir muito trabalho, determinação e algumas vezes que abramos mão de coisas que gostamos e que nos trazem conforto e praticidade.

Mais fácil um meteoro vir e acabar com tudo. Mais fácil uma raça alienígena super avançada vir e nos escravizar. Mais fácil as placas tectônicas se soltarem e a crosta terrestre virar gelatina. Mais fácil jogar a responsabilidade de mudar as coisas para os outros.

O fato é que o mundo não acabou e ainda estamos aqui, à nossa própria mecê. Vítimas e carrascos de nossas próprias escolhas.

Continua em nossas mãos fazer diferente. Eu mesmo ainda não sei bem o que fazer, ou do que abriria mão, mas continuo acreditando que nós, como seres humanos capazes de nos adaptar às mais adversas situações, encontraremos alternativas.

Um bom mundo novo para você.





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Tragédias e pores do Sol










Essencial X Circunstancial 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

No Confessionário




 Querer eu nunca quis não. Nunca, nunca, nunca. Juro que nunca que eu quis que isso acontecesse, mas aconteceu. Aconteceu, mas eu não quis não.
E nunca que eu quis, se bem que de vez em quando, quando eu tava bravo, mas muito bravo mesmo, aí eu queria.  Mas não era esse querer de quem quer de verdade, era um querer daqueles sem querer, não sabe? Era um querer sem força eu acho. Sem ser de verdade, sabe aquele querer que a gente tem só que de tão ruim a gente não quer mesmo. A gente só quer pra poder se aliviar. Era desse querer que eu queria.
Sabe aquele querer de quando a gente quer que a gente mesmo morra porque não agüenta mais viver? Por que não agüenta mais trabalhar, porque não agüenta mais ônibus lotado, porque não agüenta mais barulho de vizinho, porque não agüenta mais ficar tão sozinho.  Então era esse querer. É querer, mas não é bem querer, porque a gente não quer de verdade. A gente só quer pra poder esquecer de tudo um pouco.
Foi só assim que eu quis, mas querer assim não é querer mesmo, não é?
O caso todo foi que ontem eu quis de novo. Mas foi aquele querer sem querer, desse que falei sabe? Pelo menos eu achei que era.
Foi de noite quando eu voltei pra casa, tava tarde e ela começou a falar umas coisas que eu nem entendi direito. Eu tava meio bêbado. Então, eu gritei um monte de coisa e ela gritou um monte de coisa de volta.
Foi quando eu vi um monte de mão em cima de mim. Até aí eu acho que era ela quem queria. Queria pelo menos me machucar senão não tinha batido tanto, não é? É isso mesmo, até ali era ela quem queria. Mas eu não, eu não queria, só queria era alívio, só queria que ela não tivesse ali e muito menos me batendo. Mas ela tava e tava batendo com toda força.
Se machucou? Machucou não, já viu homem se machucar com tapa de mulher? Eu nunca vi não.
Mas também não era por isso que eu podia deixar ela me bater à vontade, não é? Podia não, então dei uma. Só pra ver se ela se acalmava, mas jacaré acalmou? Pois ela também não. Ela se levantou e veio pra cima de novo. Aí eu também quis, era só o que eu queria, mas era aquele querer sem querer sabe? Pelo menos eu achei que era.
Foi depois que eu bati um pouco nela que eu agarrei o pescoço. Aí eu queria, queria mais que ela, queria mais que qualquer outra coisa.
Aí eu apertei o pescoço dela e fiquei olhando ela me olhando, com aqueles olhos arregalados, bem abertos mesmo. Desesperados. E as mãos dela tentando me alcançar, me arranhando e tentando tirar minha mão do pescoço. E ela puxava e se mexia e se batia e me batia cada vez mais forte, cada vez mais rápido.
Até que ela começou a fraquejar e devagarinho foi deitando. E deitando. Os braços foram baixando, a mão afrouxando do meu braço e o olho dela foi ficando vazio e depois mais vazio, até que deu pra ver que não tinha mais ninguém lá, mas eles não fecharam não. Ficaram lá abertos e vazios como se fosse uma estátua olhando pro nada. 
Foi só aí que eu percebi que mesmo querendo sem querer eu fiz. Mesmo sem querer porque nunca que eu quis não senhor. Nunca, nunca mesmo que eu quis isso. Nunca quis isso de verdade, mas mesmo assim aconteceu, mas nunca que eu quis. Foi tudo sem querer.
Então me responda o senhor agora. Quando é sem querer assim, Deus perdoa?




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