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terça-feira, 26 de maio de 2009

Tempestade



E ela vem .

Como uma tempestade que se vê desde muito longe, estando em um campo aberto.

É ali que estou. De pé sozinho no alto de um morro. Um enorme campo aberto estende-se em todas as direções para onde olho. Ao meu lado, algumas poucas árvores. E é só.

Então o céu aos poucos vai mudando de cor. A luz do Sol se torna opaca coberta com uma fina camada de névoa e tudo no mundo perde o seu brilho e encanto. As folhas já não são tão verdes, as flores já não são tão vermelhas, roxas ou azuis como antes. Não é que perderam as suas cores. Não, isso seria impossível. As cores continuam lá, só não com a mesma intensidade, não com a mesma beleza.

Então do horizonte ela surge. Uma nuvem negra e gigantesca. No começo é apenas um pequeno ponto negro no céu, mas aos poucos seu corpo monstruoso vai tomando forma, até que não haja um ponto azul sequer no horizonte.

Ela avança rápido. Trazida por ventos fortes e frios, eles fazem meus cabelos balançar e minha pele se arrepiar.

Atrás de mim o Sol ainda brilha, mas sei que não adiantaria correr até lá, não conseguiria escapar, não há como escapar. Eu sei que ela vem e sei toda a dor que ela traz, mas mesmo assim não consigo escapar, não vejo como escapar.

Nesse momento ainda há coragem dentro de mim. Ainda acredito que conseguirei passar ileso por ela. Lembro-me de outras tempestades pelas quais já passei e lembro-me, mais com medo do que com convicção, de que ela irá passar, de que essa tempestade, como qualquer outra, não pode durar para sempre. Não. Nenhuma tempestade pode durar para sempre. Para sempre não é possível. É impossível. Ela vai passar e vou atravessá-la. Ah vou! Vamos lá!

Indiferente a minha pretensa coragem ela continua sua marcha aterradora em minha direção. Um paredão de água, uma cortina que cobre e esconde o que fica para trás dela vai abrindo o caminho.

Já não há mais cores. O dia transforma-se em noite. E com um raio iluminando o seu caminho e um trovão a bradar a sua fúria, ela finalmente me alcança.

No princípio eu a aguento. Toda aquela força me fascina e amedronta, tento encará-la de frente, mas não há muito que se ver. A água cobre meus olhos, assim como tudo à minha volta. Não há mais Sol, não há mais dia. Tudo é noite, tudo é breu e solidão. O som da água caindo é ensurdecedor e sinto-me cada vez mais isolado do mundo, mais distante de tudo.

Minhas roupas começam a pesar e é aí que começo a duvidar se essa tempestade vai realmente passar.

O medo toma conta. Olho e não vejo nada. Não há nada. Não há saída. Estou preso e sozinho. Só há água e trovões. Na escuridão entrecortada por raios sinto-me cada vez amedrontado.

Então o que eu mais temia começa a acontecer. O chão embaixo dos meus pés começa a ceder. Pequenos riachos formam-se sob meus pés, levando consigo terra, pedras e tudo o mais que me dava alguma sustentação. Aos poucos esses riachos vão se juntando e formando uma corredeira cada vez maior, até que finalmente consegue força suficiente para me derrubar e me carregar junto dela.

E se eu fosse. E se eu seguisse esse curso d’água? Onde eu pararia? Para onde iria? Tento ver para onde aquele riacho segue, mas é em vão. Só o breu. Tudo é escuridão.

Procuro algo em que me apoiar. A árvore é claro. Aquela árvore, que está sempre ao meu lado. É nela que me apoio. É nela que me seguro e posso comprovar toda sua força. Percebo que posso confiar nesta árvore, que apesar de parecer pequena e frágil, ela tem raízes fortes e profundas o suficiente para sustentar a nós dois.

Permanecemos naquele abraço por algum tempo. Tempo suficiente para perceber que a tempestade está se movendo e sua torrente aparentemente inesgotável está chegando ao fim.

Tempo suficiente para perceber que assim como as outras, esta tempestade também está passando, e que, apesar de toda sua força também não foi desta vez que segui seu curso, o que poderia ter me levado a caminhos ainda mais escuros e sombrios.

Agradeço à árvore por sua ajuda e ponho-me de pé mais uma vez. Encharcado, assustado e ainda um pouco zonzo, novamente fito o horizonte. Sim, há luz.

Lá longe o Sol está nascendo. Um novo dia está começando.



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sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sobre medos



Já poderia ter escrito sobre uma porção de assuntos. Ensaiei escrever sobre relacionamentos, sobre como muitas vezes nos omitimos ao não querer saber como o outro está. Pensei também em escrever sobre a ansiedade e sobre alguns fatos que venho observando na minha prática no consultório. Pensei ainda em escrever sobre a morte, e nas muitas coisas que ela nos faz pensar e sentir. Pensei, pensei e pensei, mas no final acabei por não escrever sobre nada disso. Na verdade não escrevi sobre nada. Então me dei conta que este é um assunto que vale a pena escrever. O porque de ainda não ter escrito nada.

É verdade que tenho trabalhado bastante e por isso tenho pouco tempo para me dedicar a escrever. É bem verdade também, que não sou nenhum especialista em nenhum destes assuntos. Para escrever e trabalhar, conto com minha experiência de vida, os livros, filmes e músicas, que já li, vi e ouvi, e também com as experiências daqueles que estão próximos de mim. Poderia então dizer que não tenho o conhecimento suficiente para escrever sobre nenhum deles. Poderia ainda dizer que, nenhuma destas idéias me interessou de verdade. Poderia utilizar estas e muitas outras desculpas para esconder o que de fato me impediu de escrever até agora, que é o mesmo que me impediu antes, em tantos projetos inacabados. O medo.

O medo de não saber como as pessoas irão avaliar aquilo que escrevo. Medo de estar dizendo um monte de asneiras. Medo por não saber como as pessoas que me conhecem irão reagir a esta minha faceta. Medo de que pessoas que eu nem conheço leiam e me achem um babaca. Medo de que as pessoas que são atendidas por mim me achem prepotente, e por aí vai.

Muito de como nos vemos está ligado ao modo como os outros nos veem, daí o medo de se expor. Neste caso específico o medo de ser julgado, ou avaliado. Medo da rejeição, do fracasso e até da ruptura de uma imagem idealizada que tenho de mim mesmo, ou seja, de descobrir de não ser tão bom quanto imagino que sou. Isso pode não ser muito agradável, mas pode sim me ajudar a melhorar meu modo de escrever, e de pensar. A partir do momento que coloco minhas idéias à prova, estou me abrindo tanto para elogios e uma troca positiva e construtiva de idéias, assim como a críticas maldosas e destrutivas.

O medo nos paralisa e se deixarmos aos poucos vai ocupando todos os momentos de nossa vida, não deixando mais espaço para os nossos sonhos, nossas vontades e por fim nossas necessidades. Impedindo que vivamos uma vida mais satisfatória e plena, onde possamos explorar todo nosso potencial.

Aniquilar totalmente o medo, acredito que não é possível, mas posso sempre combatê-lo. A melhor forma, a meu ver, é uma boa dose de autoestima. Acreditar que o que tenho para dizer pode sim ajudar outros como eu, ignorando assim meu lado mais pessimista. Outro fator importante é a coragem. Muita coragem para encarar e vencer estes medos. Ter um objetivo, ou um sonho, também é importante. É ele que nos dá a direção e força para encarar o que vier pela frente.

O meu objetivo neste momento é escrever algo que as pessoas, conhecidas ou não, possam ler, se identificar e quem sabe até ajudar de alguma forma. Por isso aqui está.



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