terça-feira, 8 de outubro de 2013

Herói suburbano


Estou cansado de tudo.

Puto com a política, com os políticos e com a sujeirada toda que esse pessoal apronta. Puto com a falta de respeito e de cuidado com o outro.

De saco cheio vou até o mercado comprar umas cervejas, para afogar essa minha vontade de explodir tudo o que é prédio.

Esse negócio de ter que se comprometer com uma causa, abandonar família, emprego, quem sabe até a bebida, entrar em forma para correr da polícia e aprender a construir bombas dá muito trabalho. 
Prefiro deixar pra lá e tomar umas cervejas enquanto xingo os filhas da puta pela TV durante o noticiário da noite.

E não é que enquanto estou na fila do caixa, com a minha cerveja e uns pães na mão, uma senhora de uns setenta anos entra atrás de mim na fila, enquanto a fila do caixa preferencial é ocupada por umas vagabundas de seus trinta e muitos anos!

Filhas da puta!

Mulheres amarguradas com a vida, com seus empregos e homens. Bando de reclamonas que aproveitam o momento para falar mal de tudo e de todos e encontrando alguém que lhes pareça mais fraco, não perdem a oportunidade de tirar uma vantagem, por menor que seja.

“Minha senhora”, digo eu, “a senhora pode pegar a fila preferencial”. A velha me olha e com um sorriso amarelo e ombros curvados caminha lentamente para o final da fila do caixa preferencial.

“Puta que o pariu!” penso eu, “A velha foi pro final da fila!” E aquelas desgraçadas ainda fingindo que não estão fazendo nada de errado.

Normalmente eu viraria pra frente e ficaria xingando as infelizes só na minha cabeça, mas dessa vez não deu pra aguentar, fui até a velha e disse, “A senhora não precisa ficar aqui não, pode passar na frente”, e é só aí que eu percebi que tem mais dois velhos esperando também no final da fila.

“Puta que o pariu!” penso eu mais uma vez, tentando não chacoalhar os velhos pelos ombros e gritar para que eles passem na frente, “Os senhores também não precisam ficar aqui”, digo a eles.

A velha continua a me olhar e a sorrir como se não soubesse muito bem como fazê-lo. Os outros dois mal esboçam reação. Pelo visto nenhum destes pobres coitados se posicionou na vida, passaram a vida baixando a cabeça e sussurrando “sim” para tudo o que lhe diziam. Não tem jeito, vou ter que fazer essa porra acontecer eu mesmo.

“Dá licença”, falo para primeira infeliz, “essa senhora vai passar na frente”, “Ah sim, claro!”, como se fosse a maior defensora da terceira idade. A mesma coisa com a segunda , “Nossa aqui é fila preferencial?!”, como se a filha da puta não soubesse. Ultrapassamos três espertinhas, a última ao perceber o movimento se apressou e começou a passar suas compras.

Volto para minha fila sob o olhar de aprovação de um japonês que estava na minha frente.

Quando me viro um dos velhos me faz um sinal de joia em agradecimento.

Pago minhas compras e vou para casa. Não vejo a hora de chegar e abrir essa cerveja.





Você poderá gostar também:




No confessionário








Camisa de força

Nenhum comentário:

Postar um comentário