sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Prisão



Olho para estas grades à minha frente e não as compreendo. Elas já estavam aí antes? Não, isso não é possível. Ou é? Será que sempre existiram e eu nunca as havia visto? E como não as via? Porque não as via?

Em todas as direções elas me cercam. Me impedem e limitam minha vontade de ir. Ir onde quer que eu queira. Ir em direção a mim mesmo, ir em direção a tudo o que eu posso e o que desejo.

Elas me isolam e impedem que eu faça contato com os outros. Agora vejo que não consigo verdadeiramente alcançar ninguém. Tudo o que toco são grades. Tudo o que vejo, é a partir de minha própria prisão. Tudo o que sou, sou dentro deste meu mundo particular. Sou um para mim, para quem está do lado de fora sou outro. Sou uma caricatura do que deveria ser, um arremedo do que poderia ser.

E a quem culpar? De quem é a responsabilidade por tudo isso? Não é outra senão minha mesmo. Ninguém mais poderia construir prisão tão perfeita e tão invisível para meus olhos do que eu mesmo. Ninguém pode me censurar, limitar, enganar e desviar minha atenção melhor do que eu mesmo.

Agora vejo que não há mais ninguém aqui comigo, tudo é meu, tudo sou eu. Os outros são apenas pretextos, desculpas e justificativas para que essas grades se tornassem mais sólidas, mais invisíveis e me isolassem cada vez mais. Tornando-me prisioneiro de mim mesmo, carcereiro cruel de um prisioneiro submisso. Feliz por estar preso, sentindo-se seguro apesar de entristecido, sentindo-se resignado apesar de não satisfeito com o que é, com vontade de fugir, mas sem saber para onde ir ou em que direção correr.

Sento-me no fundo de minha cela e observo como as coisas funcionam. Sinto estranheza ao ver como sou diferente de mim mesmo, como essas grades fazem com o que se passa aqui do lado de dentro seja diferente do lado de fora. De como muitas coisas não chegam sequer a sair. De como eu mesmo não sairei daqui.

O carcereiro me olha, sabe que eu agora o vejo. Sou eu, mas diferente. Olho-o nos olhos e sei que meu trabalho agora é convencê-lo a abrir esta porta e convencer a mim mesmo que sou eu que tenho a chave.




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3 comentários:

  1. e se isso que está dentro cresce? até que não cabe mais, começa a transbordar... alguns vão rir, outros chorar, alguns vão odiar, outros amar... muitos vão se incomodar, e julgar!! mas fodam-se esses!! Pra mim só interessa o que é de verdade.

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  2. WTF!!!!

    Jean Paul Sartre te convidaria para um café, cigarros e strudels.
    Eu te convido para uma(s) breja, churras e arranhar uma viola.
    Lindo texto, Figon!
    Seria esse o momento da tão aclamada "individuação" de Jung ou tornar-te quem és de Niezstche?
    I don't fucking know! Mas é bom encontrar velhos amigos, pelo menos para lembrar quem se foi, ah sim! Com certeza!

    Saudadonas man,

    D.

    Deixa eu voltar para o ensaio q já terminou a pausa do cigarro. KKKK

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  3. Filho!
    Cada vez que leio um dos seus contos experimento uma emoção diferenciada. Admiro-te a capacidade de tão claramente expor o âmago obscuro e sentimento não declarado de alguns de nós.
    Beijão, te amo
    Julia

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